Hungria, dia 623 – A parada do orgulho LGBT de Budapeste

A Hungria é conhecida como um país conservador na Europa Central, apesar de não tão religioso como a Polônia, por exemplo. Por essa razão, a comunidade LGBT passa por alguns bocados para viver a vida normal que todo ser humano deveria levar independente de qualquer coisa. É contraditório pensar que em um país que as pessoas são mais individuais e focadas na própria vida, incomode tanto o fato da pessoa escolher com quem ela quer ficar.
Mas se tem uma coisa que dá orgulho na Hungria é justamente a resistência. Em 1997, quando o mundo inteiro era bem mais fechado do que é hoje, aconteceu a primeira marcha do orgulho gay em Budapeste, com poucas pessoas. Vinte anos depois, eu tive a oportunidade de participar dessa mesma marcha. 

A empresa em que eu trabalho tem diversos grupos de afinidade incluindo para a comunidade LGBT e na prévia do evento distribuiu camisetas e bandeiras para levarmos. O que mais me chamou atenção foi a reunião no dia anterior que tinha como objetivo falar sobre segurança. Em anos anteriores os participantes sofreram ataques de grupos extremistas e manter-nos seguro era uma prioridade para a empresa. Nos informaram que era preciso chegar no horário correto para entrar pelas entradas oficiais do evento já que todo o caminho seria cercado e não seria permitido entrar mais ninguém. Isso tudo, segundo o governo, para proteger os participantes. É muito estranho pensar em cercas em uma passeata em prol da visibilidade. Outra indicação da empresa foi não andar sozinho e com as camisas depois do evento, ou carregar as bandeiras de forma visível. E eu pensei, se temos que fazer isso por um dia, imagina quem tem que fazer isso todos os dias? Esconder o que é?
A parada foi linda. Tinha gente de todas as idades, famílias, muitas empresas envolvidas com seus logos estampados junto a muito arco-íris. As pessoas paravam pedindo para tirar fotos com as bandeiras, mas sem dúvidas o ponto mais bonito foi um pouco antes de atravessar a ponte mais famosa da cidade. Da sacada de um prédio, uma senhora bem idosa e aparentemente doente,   apontava para baixo e batia palmas. Como se de alguma forma ela quisesse dizer que estávamos no caminho certo.

Tudo terminou no lado Buda da cidade, de forma pacífica, sem incidentes e bonita. Eu sei que é difícil falar sobre algo que a gente não vive, mas sempre acreditei que a gente só vai vencer se for junto e eu acredito que estou do lado certo da luta. Para as pessoas que eu tanto amo, que lutaram e ainda tem que lutar tanto para ser quem são, contem sempre comigo para levantar a bandeira de um mundo mais igual.

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